Deve chamar-se Tristeza
Fernando Pessoa
Deve chamar-se
tristeza
Isto que não
sei que seja
Que me
inquieta sem surpresa
Saudade que
não deseja.
Sim, tristeza
- mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe
está uma estrela
E ao perto
está não a ter.
Seja o que
for, é o que tenho.
Tudo mais é
tudo só.
E eu deixo ir
o pó que apanho
De entre as
mãos ricas de pó.
Sim, sei bem
Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.
Fernando Pessoa (Ricardo Reis)
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