Faz hoje 50 anos que houve as maiores cheias de sempre em Portugal. Foi a maior catástrofe natural, depois do terramoto de 1755. E eu, lembro-me muito bem desse dia. Foi um dia inteiro de chuva, sempre uma chuva certinha, não foi chuva em catadupa, não, foi sempre uma chuva certinha e todo o dia.
Depois veio a noite, e continuava a chuva, e começaram os relâmpagos... lembro-me bem, era a noite de aniversário do meu pai, ele fazia 37 anos, estava-se em 1967. E foi o jantar, os Parabéns e a chuva continuava... Os relâmpagos continuavam... Naquela época morávamos perto da Igreja de São Vicente de Fora, que tinha um para raios, que os atraia... e que nos assustava... e foi também toda a noite... e chegou a hora da maré encher e o rio Tejo e seus afluentes ali tão perto... e os seus leitos cheios transbordaram e tinha de ser...
Os arredores de Lisboa transbordavam também de bairros de "barracas" que se construíam perto dos ribeiros para que pelo menos houvesse água para as lavagens... era a época da ditadura, do Salazarismo, a maioria da população não tinha instrução, não sabiam ler nem escrever, vivia-se muito mal, as casas eram velhas e sem condições mínimas, os esgotos? eram um luxo! Não existiam, nem casas de banho haviam, as telhas eram os tectos também, porque o forro, esse, não existia e o chão também não, era terra batida...
Era Sábado, também como hoje, durante a noite e a madrugada de Sábado para Domingo, de 25 para 26, a água inundou num instante, as zonas baixas do Tejo, de Vila Franca de Xira a Loures, as cheias levaram e destruíram as "casas"e com elas as famílias que por lá dormiam... Tudo rápido... a morte ceifou muitas vidas... centenas de vidas... os corpos que foram na enchente, foram aparecendo até meados de Janeiro do ano seguinte...
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