sexta-feira, 17 de junho de 2022

"A Procissão" - João Villaret

 


A Procissão

de António Lopes Ribeiro

Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.

Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.


Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!

Ai, que bonitos que vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.


Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!

Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Já passou a procissão.


Fado Falado - João Villaret

 

Fado triste
Fado negro das vielas
Onde a noite quando passa
Leva mais tempo a passar
Ouve-se a voz
Voz inspirada de uma raça
Que mundo em fora nos levou
Pelo azul do mar
Se o fado se canta e chora
Também se pode falar

Mãos doloridas na guitarra
que desgarra dor bizarra
Mãos insofridas, mãos plangentes
Mãos frementes e impacientes
Mãos desoladas e sombrias
Desgraçadas, doentias
Onde há traição, ciúme e morte
E um coração a bater forte

Uma história bem singela
Bairro antigo, uma viela
Um marinheiro gingão
E a Emília cigarreira
Que ainda tinha mais virtude
Que a própria Rosa Maria
No dia da procissão
Da Senhora da Saúde

Os beijos que ele lhe dava
Trazia-os ele de longe
Trazia-os ele do mar
Eram bravios e salgados
E ao regressar à tardinha
O mulherio tagarela
De todo o bairro de Alfama
Cochichava em segredinhos
Que os sapatos dele e dela
Dormiam muito juntinhos
Debaixo da mesma cama

Pela janela da Emília
Entrava a lua
E a guitarra
À esquina de uma rua gemia,
Dolente a soluçar.
E lá em casa:

Mãos amorosas na guitarra
Que desgarra dor bizarra
Mãos frementes de desejo
Impacientes como um beijo
Mãos de fado, de pecado
A guitarra a afagar
Como um corpo de mulher
Para o despir e para o beijar

Mas um dia,
Mas um dia, Santo Deus, ele não veio
Ela espera olhando a lua, meu Deus
Que sofrer aquele
O luar bate nas casas
O luar bate na rua
Mas não marca, mas não marca a sombra dele
Procurou como doida
E ao voltar da esquina
Viu ele acompanhado
Com outra ao lado, de braço dado
Gingão, feliz, levião
Um ar fadista e bizarro
Um cravo atrás da orelha
E preso à boca vermelha
O que resta de um cigarro
Lume e cinza na viela,
Ela vê, que homem aquele
O lume no peito dela
A cinza no olhar dele
E então ...

E o ciúme chegou como lume
Queimou, o seu peito a sangrar
Foi como vento que veio
Labareda atear, a fogueira aumentar
Foi a visão infernal
A imagem do mal que no bairro surgiu
Foi o amor que jurou
Que jurou e mentiu
Ah Correm vertigens num grito
Direito ou maldito que há-de perder
Puxa a navalha, canalha
Não há quem te valha
Tu tens de morrer
Há alarido na viela
Que mulher aquela
Que paixão a sua
E cai um corpo sangrando
Nas pedras da rua

Mãos carinhosas, generosas
Que não conhecem o rancor
Mãos que o fado compreendem
E entendem sua dor
Mãos que não mentem
Quando sentem
Outras mãos para acarinhar
Mãos que brigam, que castigam
Mas que sabem perdoar

E pouco a pouco o amor regressou
Como lume queimou
Essas bocas febris
Foi um amor que voltou
E a desgraça trocou
Para ser mais feliz
Foi uma luz renascida
Um sonho, uma vida
De novo a surgir
Foi um amor que voltou
Que voltou a sorrir

Ah, Há gargalhadas no ar
E o sol a vibrar
Tem gritos de cor
Há alegria na viela
E em cada janela
Renasce uma flor
Veio o perdão e depois
Felizes os dois
Lá vão lado a lado
E digam lá se pode ou não
Falar-se o fado.

"Tango Ribeirinho" - Simone de Oliveira

 


Tango Ribeirinho

Letra: José Carlos Ary dos Santos
Música: Nuno Nazareth Fernandes e Thilo Crassman

É à beira da ribeira
Que Lisboa abre os olhos
Quando acorda de manhã
À cabeça da peixeira
Há fruta-do-mar aos molhos
Que põe mais sal na manhã

É à beira da ribeira
Que os marujos vão curtir
Os restos da bebedeira
Que apanharam a sorrir
É à beira da ribeira
Que acorda a cidade inteira
Que apregoa a vendedeira
Que a gente gosta de ouvir

REFRÃO:
Este tango ribeirinho
Sabe a Tejo e sabe a vinho
Este tango da cidade
Tem navalhas de saudade
Tem punhais de solidão
A doer devagarinho
Dentro do meu coração

Este tango ribeirinho
Tem fragatas de carinho
Tem andorinhas nas telhas
E cravos de por na orelha
Sardinheiras encarnadas
Junto às toalhas de linho
Penduradas nas sacadas
Este tango ribeirinho


É à beira da ribeira
Que há canalhas e há malandros
E mulheres de meia-porta
Mas à beira da ribeira
Há cabazes de morangos
Que ainda nos sabem a horta

É à beira da ribeira
Que vai esperar o estivador
Numa manhã toda inteira
Que lhe comprem o suor
É à beira da ribeira
Que um ramo de erva cidreira
Traz a ternura e cheira
A Lisboa, meu amor

REFRÃO:
Este tango ribeirinho
Sabe a Tejo e sabe a vinho
Este tango da cidade
Tem navalhas de saudade
Tem punhais de solidão
A doer devagarinho
Dentro do meu coração

Este tango ribeirinho
Tem fragatas de carinho
Tem andorinhas nas telhas
E cravos de por na orelha
Sardinheiras encarnadas
Junto às toalhas de linho
Penduradas nas sacadas
Este tango ribeirinho

Oh-oh-lé

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Marcha da MADRAGOA, a grande vencedora das marchas Populares de Lisboa/2022


marcha da Madragoa foi a grande vencedora das Marchas Populares de Lisboa de 2022, com o tema:
"Para sempre Madragoa" 

(Referenciando a própria história do Bairro, com grande ligação ao rio Tejo e a sua população maioritária de Varinas e Pescadores) 

O segundo lugar foi atribuído à marcha de Alcântara, com o tema:

 "Com açúcar e muito afeto, Alcântara é o teu doce predileto".


Em terceiro lugar ficou a marcha do Alto do Pina, também eleita como a Melhor Coreografia.

Relembrar que as 20 marchas que estavam a concurso, para além de apresentarem a sua própria marcha também tinham de apresentar a Grande Marcha de Lisboa que este ano se intitulava: 
"AMÁLIA É LISBOA"

celebrando o centenário do nascimento da fadista Amália Rodrigues.


"Amália é  Lisboa"

Cem anos são p'ra lembrar
Amália, "Lá vai Lisboa" 
Ouvindo a "Canção do Mar"
Cantando o "Fado Malhoa"

Perguntavas "Com que Voz" 
Com alma, com emoção
Do Cais da Ribeira à Foz
Na "Rua do Capelão"

E Lisboa é com certeza
"Uma Casa Portuguesa"
A marchar lá na Avenida
O que ao Santo António peço
"Nem às Paredes Confesso" 
"Que Estranha Forma de Vida"

REFRÃO: 
Se quando a marcha passar 
Ouvires Amália cantar 
Um fado sobre a cidade 
Se Lisboa se enlaçasse 
"Se uma Gaivota voasse"
Do Terreiro à Liberdade 

Como "Os Amantes do Tejo" 
Se reviveres um desejo 
Nos Becos, nas Escadinhas 
Então Lisboa é o amor 
"A Dar de Beber à Dor"
"Na Casa da Mariquinhas" 

Se quando a marcha passar 
Ouvires Amália cantar 
Um fado sobre a cidade 
Se Lisboa se enlaçasse 
"Se uma Gaivota voasse"
Do Terreiro à Liberdade 

Como "Os Amantes do Tejo" 
Se reviveres um desejo 
Nos Becos, nas Escadinhas 
Então Lisboa é o amor 
"A Dar de Beber à Dor"
"Na Casa da Mariquinhas" 

Pelos bairros à noitinha 
Ela cantava "Foi Deus"
E uma "Lágrima caiu" 
Ao confessar "Erros Meus" 

Nesta saudade guardada 
No coração alfacinha 
Amália, sempre lembrada 
Amália, sempre rainha 

E Lisboa é com certeza 
"Uma Casa Portuguesa" 
A marchar lá na Avenida 
O que ao Santo António peço 
"Nem às Paredes Confesso"
"Que Estranha Forma de Vida"

REFRÃO: 
Se quando a marcha passar 
Ouvires Amália cantar 
Um fado sobre a cidade 
Se Lisboa se enlaçasse 
"Se uma Gaivota voasse"
Do Terreiro à Liberdade 

Como "Os Amantes do Tejo" 
Se reviveres um desejo 
Nos Becos, nas Escadinhas 
Então Lisboa é o amor 
"A Dar de Beber à Dor"
"Na Casa da Mariquinhas" 

Se quando a marcha passar 
Ouvires Amália cantar 
Um fado sobre a cidade 
Se Lisboa se enlaçasse 
"Se uma Gaivota voasse"
Do Terreiro à Liberdade 

Como "Os Amantes do Tejo" 
Se reviveres um desejo 
Nos Becos, nas Escadinhas 
Então Lisboa é o amor 
"A Dar de Beber à Dor"
"Na Casa da Mariquinhas" 

Então Lisboa é o amor 
"A Dar de Beber à Dor"
"Na Casa da Mariquinhas"