quinta-feira, 25 de maio de 2023

Tina Turner, a Rainha do Rock'n Roll


A cantora Tina Turner morreu ontem, aos 83 anos, em sua casa, na Suíça, vitima de doença prolongada.



Outro "Postal do Dia" - Luís Osório

No passado mês de Fevereiro do corrente ano, já aqui mencionei o programa acima referenciado, da TSF.

Agora escolhi mais este, entre tantos outros, porque me tocou e porque estamos a atravessar uma época em que pessoas corretas, dignas, com caráter e com "espinha dorsal" estão praticamente em vias de extinção...

Uma velhota humilhada, um assessor em bicos dos pés e um ministro capaz de tudo


1. Ontem de manhã, na estação de Sete Rios, em Lisboa, três adolescentes divertiram-se com uma velhota que lhes pediu um lugar para poder descansar as pernas.

Estava carregada a senhora. Dois grandes sacos que a obrigavam a um passo lento e pesado. Não havia cadeiras vazias na estação e ela perguntou com bons modos, mas a resposta foi uma sonora gargalhada.

Que procurasse outro lugar, havia milhares em toda a estação. Aqueles três adolescentes olhavam sem ver, tenho a certeza absoluta de que não colocaram sequer a ideia de que aquilo que faziam era terrível e indecoroso.

Algumas pessoas insurgiram-se contra os miúdos. Lá se levantaram, não sem antes terem soltado duas ou três alarvidades.

O que te conto não é notícia.

Todos já vimos e ouvimos coisas do género.

2. Mas esta amoralidade é mais funda do que possa parecer.

Uma amoralidade que não é um exclusivo das pessoas sem educação que não conseguem disfarçar a maldade ou a total incapacidade de ter empatia, ou respeito por quem deveria merecer respeito.

O que se passou ontem e está a passar hoje com a comissão de inquérito é simplesmente vergonhoso e tem tudo a ver com o que antes contei.

As respostas do ex-adjunto de um ministro da República aos deputados da comissão foram chocantes. A maneira como pôs tudo em causa diz muitíssimo sobre a degenerescência do nosso tempo.

Frederico Pinheiro era um adjunto de um gabinete do Governo.

Independentemente da sua razão ou da falta dela, e tendo em conta que a Pátria não estava em risco, deveria ter feito o que é a sua obrigação, a mesma que um padre tem quando respeita o segredo da confissão ou um jornalista a identidade das fontes.

Ver Frederico Pinheiro a falar da maneira como falou é o sinal de um tempo. Toda a gente publicita a sua opinião, toda a gente se leva a sério e deseja protagonismo, toda a gente se acha importante, toda a gente desrespeita hierarquias.

3. Mas se ouvir Frederico foi grave e sintomático, escutar João Galamba depois da comunicação de Marcelo Rebelo de Sousa é penoso e angustiante.

Como teve a lata de se manter depois do que o Presidente afirmou sobre si numa comunicação ao país?

Pensei sinceramente que não fosse possível, não me parecia possível - com pressão ou sem pressão do primeiro-ministro.

Esperei uma hora, dois dias, uma semana. 

Vi-o sorridente e arrogante a responder aos jornalistas e concluí que o mundo está definitivamente louco.

Porque um homem que se mantém no Governo depois do Presidente da República ter dito o que disse é alguém que é capaz de tudo ou quase tudo para se manter à tona, para se manter como ministro, para sobreviver.

4. Estes três episódios são parte do mesmo.

Os três rapazes que insultaram a velhota, o assessor que desafiou o primeiro-ministro e contou segredos e o ministro que desrespeitou o Presidente da República, fazem parte deste caldo cultural que nos poderá levar à ruína e a uma decadência civilizacional irreversível - com tudo o que isso inevitavelmente trará.

Muito triste o que está a acontecer.

Fala-se muito de corrupção e ganância, mas fala-se menos de caráter. E as duas coisas são importantes. Porque as duas corroem a democracia, porque as duas rebentam o dique que nos protege da barbárie.

Vemos isso transversalmente.

Nos pequenos e grandes pormenores.

Entre os ricos e entre os pobres.

Entre os poderosos e os que não têm poder algum.

É preciso meter o travão de mão.

E caro António Costa, não dá mais.

Tem mesmo de governar e pôr ordem na casa.

Deixe a tática de lado e faça o que tem a fazer.

Faça-nos acreditar outra vez ou saia.

Meu comentário:

"Falta de caráter" devia ser o título deste "Postal"... Não poderia estar mais de acordo!