terça-feira, 4 de março de 2025

Luís Osório - Postal do dia - "Ninguém tem coragem de dizer o que José Raposo é..."

 

Ninguém tem coragem de dizer o que José Raposo é

Muito se escreve sobre o ator José Raposo, mas poucos dizem a única coisa que verdadeiramente conta no que ele é.

Tenho ouvido e lido sobre José Raposo, mas nada do que oiço ou leio resume o que verdadeiramente conta no que ele é.

Dizem-me que é um ator generoso.

Que a sua relação com Maria João Abreu era magnífica e frutuosa.

Que é um dos mais admirados pelo povo que vai ao teatro de revista ou pelo que segue as novelas.

Que é um cidadão empenhado.

Que não há ninguém que dele não goste.

Tudo coisas excelentes, mas nenhuma delas diz o essencial.

É que José Raposo é um gigante.

Um dos melhores atores da história, mas também um dos mais esquecidos no momento em que se fazem os rankings, talvez por ter feito rir durante demasiadamente tempo, talvez por aceitar projetos populares, talvez por ser revisteiro.

Mas vê-lo a representar a figura de Rui Nabeiro.

Vê-lo no papel do produtor Mário Martins em Variações.

Vê-lo na pele de Macbeth, encenado por Mónica Calle.

Ouvi-lo em dobragens que marcam os miúdos ou observar o trabalho que tem feito na Casa do Artista.

Meu Deus…

…quando deixaremos nós de ser provincianos?

Observá-lo no seu caminho é reconhecer a sua excelência, o seu enormíssimo talento misturado com uma humildade que o faz parecer de carne e osso como a maioria dos outros.

É de carne e osso, mas de uma carne e de um osso diferentes da maioria.

Carrega uma alma luminosa que o distingue, que lhe oferece as ferramentas para ser o que poucos atores conseguem.

E há uma outra coisa.

É o mais completo – o que faz rir e chorar, o que faz pensar e indignar, o que nos faz sentir que é verdade tudo o que diz, o que é genuíno e, ainda assim, generoso com um mundo todos os dias mais egocêntrico, invejoso e intolerante.

José Raposo, já chega de calar o que entra pelos olhos dentro.

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