segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Memorias antigas para os dias actuais

A propósito deste poste do blogue "duas ou três coisas" do nosso, quase, ex embaixador em Paris, Dr. Francisco Seixas da Costa, que me levou, curiosa, a ler alguns dos seus comentários, ao terminar, só me veio á memoria estas quadras soltas de António Aleixo, falecido antes de eu ter nascido e que, tanto se aplicam, não só, aos comentários que por lá li, como aos dias actuais. Vai daí, para dar descanso a minha mente, resolvi aqui os transcrever. É que vale sempre a pena recordá-los.

Quando não tenhas à mão
Outro livro mais distinto,
Lê estes versos que são
Filhos das mágoas que sinto

Forçam-me, mesmo velhote,
De vez em quando, a beijar
A mão que brande o chicote
Que tanto me faz penar

Porque o mundo me empurrou,
Caí na lama, e então
Tomei-lhe a cor, mas não sou
A lama que muitos são.

Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.  

Deixam-me sempre confuso
As tuas palavras boas,
Por não te ver fazer uso
dessa moral que apregoas.


Vós que lá do vosso império
Prometeis um mundo novo,
Calai-vos, que pode o povo
Qu'rer um mundo novo a sério

Que importa perder a vida
Em luta contra a traição,
Se a Razão mesmo vencida,
Não deixa de ser Razão?

Sei que pareço um ladrão...
Mas há muitos que eu conheço
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.

Eu já não sei o que faça
P'ra juntar algum dinheiro;
Se se vendesse a desgraça
já hoje eu era banqueiro

Há pessoas muito altas
De nome ilustrado e sério,
Porque o oiro tapa as faltas
Da moral e do critério.

Este livro que vos deixo
E que a minha alma ditou,
Vos dirá como o Aleixo
Viveu, sentiu e pensou.

Um Abraço!

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