quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Tristes Recordações

Na segunda-feira, dia 08, como foi feriado e não me apeteceu sair, fiquei sozinha em casa, num dolce far niente.
Fazendo zapping, parei um pouco no programa da tarde do canal 1, “Há tarde”, com o Herman José e Vanessa Oliveira.
Entre os vários convidados, encontrava-se a Florbela Queirós que, entre outras coisas, contou umas passagens dos seus tempos de início de carreira, fazendo-me recordar também umas tristes passagens da minha juventude.
Para a juventude de hoje, a quem tudo é permitido, que vivem em liberdade, em todos os campos, cujos pais, tios e avós, tudo fazem para satisfazer todos os desejos, alguns até bem fora das idades, quase é impensável estes acontecimentos de outrora.
Lembro-me bem como era censurado calçar meias de vidro (não existiam outras) antes de uma certa idade, mais propriamente antes dos dezoito anos. E reparem que escrevi meias, não collants, porque esses, são uma coisa bem mais recente.
  Ora, como próprio da juventude, eu também queria parecer mais velha e não usar soquetes ou mesmo meias     até ao joelho. Como isso não me era permitido por não ter ainda idade, teria há época desta história cerca de  15 anos, decidi então juntar dinheiro e ao fim de algum tempo comprei umas meias, comprei elástico para  fazer umas ligas que enrolava nas meias e na perna para segurar as meias pois não tinha cinto ligas e como    naquela época se usava bata nas escolas, que ia variando de acordo com o ano e com a escola em que se  andava, mas todas elas tinham bolsos, resolvi guardar as meias e ligas nos bolsos da bata.

      Liga - anel elástico usado para segurar a meia à perna

   Cinto Ligas - Ainda hoje se usa!

                Então, passei a sair de casa de soquetes calçados e meia dúzia de portas abaixo, 
                entrava numa escada, encostava a porta da rua, descalçava os soquetes e 
                calçava as meias de vidro e lá ia eu toda airosa.
Tudo correu bem durante uns pouquíssimos dias. E um dia, dia que nem demorou muito a acontecer. A minha vaidade demorou mesmo poucos dias, creio bem que nem demorou uma semana. Uma manhã, estava eu a preparar-me para a troca de meias quando apareceu a minha madrasta que, mesmo sem pedir qualquer esclarecimento, me deu uma tal sova na rua e que depois me fez ir para a escola de soquetes e com uma tareia em cima… 
Outros tempos, tempos em que ninguém tinha a preocupação de satisfazer desejos de jovens.                        
Tempos em que as crianças não tinham direitos, apenas obrigações:
obrigação de se levantarem quando não havia lugares que chegassem para todos os adultos, cedendo assim o seu;
obrigação de pedir desculpa, mesmo que tivessem razão;
obrigação de dizer obrigada;
obrigação de ir buscar um copo de água se alguém tinha cede;
… e tantas, tantas outras obrigações…
A vida era recheada de obrigações e proibições...                                                                                 Outros tempos!     

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