quinta-feira, 1 de março de 2012

Capítulo I - Portugal no inicio do Século XX (continuação II)

A Trilogia do Estado Novo: Deus, Pátria, Família


Também no Ribatejo, província de Portugal dedicada mais á rudeza dos touros e a tudo o que se refere com a tauromaquia e campinos, vamos conhecer a Lisete, tendo nascido numa aldeia ali para os lados de Torres Novas que na época, ainda não era cidade. De cidades, apenas ouvia falar de Tomar, a dos “patos bravos” e da festa dos “tabuleiros” e também de Santarém, de onde ouvia histórias, por alturas da feira de gado, sobre touradas… Lisete, sem o saber, tinha nascido no auge da infância da 1ª. Republica. Tempos difíceis a esperavam, pois quando ela também estava no auge da sua infância, eis que surgiu o Estado Novo.
Lisete vivia numa casa sem electricidade, onde as pessoas se iluminavam à luz de velas ou de lamparinas alimentadas a óleo ou azeite e mais tarde com candeeiros a petróleo. Casa humilde que durante o dia era iluminada pelo sol, enquanto este brilhava. Casinha pobre mas limpa e idealmente decorada com pratos pendurados nas paredes e utensílios e demais louças de estanho ou de barro, apoiados no rebordo da chaminé ampla e, ocupando esta, grande parte da cozinha. Os instrumentos de lavoura, todos arrumados a um canto, ao lado de abóboras e cestos… bem como diversos bancos e cadeiras de madeira, de fabrico artesanal. Talheres e pratos, sobre a mesa com toalha alva de limpeza, o cântaro de barro com água sempre fresca que vinha da fonte da aldeia e, o vinho que tinha presença obrigatória, para aquecer as almas… De referir também, como elemento crucial, o altarzinho caseiro, composto por um crucifixo ou imagem e, uma vela de cada lado, não faltando a jarrinha de flores ornamentais. Quando o pai chegava ao final do dia, junto com os filhos homens, todos vindos da lavoura, as moçoilas e a mãe, olhavam com respeito, para o pai e irmãos, satisfeitas pelo regresso. O jantar já fumegava na panela e podia dar-se inicio á janta… Era assim, a vida campestre, nas famílias mais modestas, na base social mais baixa. Um ambiente de analfabetos rurais, no Portugal dos anos 30. De algum modo, era a vida que António Salazar, tão bem conhecia. Afinal, era filho de “feitor” e tinha sido criado e crescido numa casinha modesta em Vimieiro, perto de Santa Comba Dão. Estava então instalada a trilogia por onde todos os portugueses se deveriam reger: Deus, Pátria, Família… O seu conservadorismo exaltava valores de tradição, ordem, estabilidade e paternalismo. Essa trilogia mandou Salazar ensinar nas escolas do país, desde 1938.
Mas esta realidade torna-se muito dura e por todo o país, desde o Minho ao Alentejo, das Beiras ao Algarve, é vital que se migre. Lisboa, ao longo da sua história, é a única cidade capaz de captar gente de todo o país: criadas, aprendizas, costureiras, cabeleireiras, trabalhadores fortes para a estiva, vendedeiras, lavadeiras, varinas, floristas, merceeiros, marçano ou aprendiz de merceeiro, carvoeiros, funileiros, barbeiros, taberneiros, etc…
Estas famílias, outras famílias chamam e outras, e outras, e assim, se vão instalando pertinho umas das outras.
Vinda do Alentejo chega a um dos nossos Bairros uma pequena família, da qual faz parte uma esbelta rapariga de nome Céu.
Mas aqui a vida também não é fácil e, para apaziguar as saudades dos campos, cedo se começam a preparar as festas dos Santos Populares: Santo António, São João e São Pedro. Levam longos meses nas preparações, para que em Junho, tudo esteja a postos e todos possam cantar, bailar, comer e divertir. Sendo os arraiais, os bailaricos e as marchas dos bairros, os elementos fundamentais dessa diversão. Os festejos animam as ruas, praças, mercados e largos. Diversos grupos de pessoas dirigem-se aos locais mais importantes da cidade, com balões iluminados em arcos dependurados e com pequenas “orquestras”, cantando e marchando aos pares.

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