quinta-feira, 22 de outubro de 2020

48ª Crónica: "Há coisas que não me entram na cabeça, o que é que querem?"

PÓ DE ARROZ E JANELINHA

Crónicas de Alice Vieira e Manuela Niza
durante a quarentena da Pandemia da Covid-19

18-10-2020


Às vezes, sinto-me mesmo parva. Mas há coisas que não me entram na cabeça, o que é que querem?

Claro que o defeito é meu, que devia anda a par das coisas mais importantes deste país. Claro que me interesso! 

Enfim, não muito, mas ligeiramente, pela política. 

Conheço os partidos, embora não seja filiada em nenhum, mas sei o que defendem e acho que as pessoas que não vão votar, deviam pagar multa. 

Caramba, estivemos tantos anos sem podermos votar que agora é mesmo nossa obrigação. 

Não gosto das propostas de nenhum dos partidos nem dos candidatos? Tudo bem, mas vou lá e voto em branco. Mas fui. E aquela é a minha opinião.

Também me interesso por livros. Não tenho grandes estudos, mas gosto muito de ler, e até sei o nome de alguns escritores portugueses. 

Nunca fui capaz de ler os “Lusíadas”, é verdade. Era complicado demais para a minha cabeça. Mas acho que há muita gente, mesmo com estudos, que também nunca leu… 

Mas adorei um filme que passou há muitos anos, acho que no Cinema Éden, sobre a vida dele. António Vilar, era o nome do ator que fazia de Camões. Que homem tão lindo! Nessa altura é que se faziam filmes bonitos...

Tudo isto para dizer que, apesar de não ser totalmente analfabeta, se há coisa de que eu não percebo nada, mesmo nada, é de futebol. 

O meu Isidoro também não é grande apreciador (está sempre a dizer que no tempo dele, o que era importante, era o hóquei em patins, e que hoje, os mais novos, já quase nem sabem o que isso é…) mas às vezes, lá vê um ou outro jogo na televisão. 

Uma dúzia de homens aos pontapés a uma bola, que graça é que isso tem? Isso até os meus netos fazem. Isso e mais: são especialistas em fazer entrar uma bola, num cesto que eu preguei, no alto da parede do corredor, para eles brincarem quando cá estão.

E lembro-me de há anos ter dado grande barraca. Era na altura em que o Cavaco estava a querer tirar-nos uma data de feriados, e todos estávamos danados. O Isidoro tinha comprado o jornal e estava sentado na cozinha a lê-lo. E de repente ouço-o: 

- “Quaresma em dúvida. Sim senhora, lindo serviço!” 

E eu, deixo de engomar e exclamo:

- “O quê? Não me digas que também nos vão tirar a Páscoa!”

E fico de ferro na mão, a olhar para ele, sem perceber por que razão ele ria, ria que parecia maluco.
Também, caramba, como é que eu ia adivinhar que Quaresma era o nome de um jogador?

Às vezes, quando me quer irritar, conta esta história aos amigos e todo se riem como se não houvesse amanhã. Ai, os homens, valha-me Deus.

Ainda bem que desta vez ele ainda não tinha chegado e não soube de nada, porque eu fiz o Vasco jurar que não contava a ninguém.

Então, eu estava em casa, já tinha acabado de fazer o jantar e, sentei-me na sala a fazer malha e a ver televisão. Quando tenho tempo gosto de ver o Telejornal e depois o “Joker”. Acho muita graça ao miúdo, e ainda vou aprendendo alguma coisa. Por acaso às vezes até sei coisas que eles não sabem, como aquele noutro dia que não sabia o que era um “piaçaba”…

Mas adiante, o Vasco tinha chegado para levar os meninos, e estava ao pé de mim a vestir-lhes os casacos.

É então que eu leio uma notícia verdadeiramente inacreditável, em letras garrafais, “Birra de Jesus por causa de Lucas”.

Ia-me passando. 

- “Mas estes padres e bispos estão doidos? A falarem assim de Jesus e dos apóstolos? E a Igreja não os chama para os castigar?”

Foi então que o Vasco se chegou ao pé de mim, a explicar-me, baixinho, o que é que aquilo queria dizer. 

Claro que fiquei envergonhada, mas também as pessoas não deviam ter estes nomes…

Se calhar vou mesmo ter de aprender alguma coisita de futebol.

Qualquer dia, os meus netos estão crescidos e não vão querer ter uma avó tão ignorante daquilo que verdadeiramente interessa neste país.

Dras. Alice Vieira e Manuela Niza, Obrigada!

Sem comentários:

Enviar um comentário