terça-feira, 10 de abril de 2012

Caso Casa Pia

Já dura há tantos anos...
Não pode existir alguém que não saiba, dos abusos que ali se passavam ou passam , sei lá...
A única coisa que me confunde, é todos continuarem nas suas vidinhas, as vitimas e os culpados, ai desculpem, parece que são todos vitimas, não existem culpados ou, quê? ah pois, parece que mudou, as vitimas afinal são uns mentirosos e passaram a culpados e os culpados agora são uns coitadinhos e passaram a vitimas desses. E a dona da casa de Elvas, também não me conformo, ter saído ilesa de tudo isto. Mas afinal, não há um ditado popular que diz que "tão ladrão é o que rouba a vinha como o que fica a porta a guardá-la"?
Ora vejamos duas entrevistas da Felicia Cabrita, sempre ela, para termos a "exacta" noção, ou não, no que se refere a "vitimas" e "culpados":
Casa Pia: 'Comecei a ser abusado com cinco anos'
7 de Abril, 2012 por Felícia Cabrita Ricardo Oliveira explica que quis dar esta entrevista ao SOL para «voltar a dizer a verdade», porque sente «remorsos» do que fez. E recorda como foram feitas as entrevistas a Carlos Tomás. Explique lá como tudo se passou, na entrevista. Estava o Ilídio e o Carlos Tomás, o Ilídio estava-se a picar. Isto foi na cozinha da casa do Tomás. Enquanto decorreu a entrevista, estava a fumar e havia drogas? Sim. Mas a entrevista tem muitas partes cortadas. Era quando eu dizia a ele: «Pára, pára para eu dar um bafo». Era para conseguir mentir. Porque vê-se que quando mentia em relação ao Carlos Cruz eu baixo a cabeça, eu tive que fumar muita droga para conseguir mentir. Mesmo eu disse ao Carlos Tomás: «Posso dar a entrevista e dizer que eles estão inocentes, mas só se fumar muita droga, só assim é que consigo». E ele disse: «Ok, não há problema». E tentaram contactar outras vítimas da Casa Pia? Sim, fomos ao Francisco Guerra, eu mais o Pedro Lemos. Eu ia todo ‘coquinado’, rebaixei-me tanto que fui ameaçá-lo, até levava um gravador para fazer espectáculo. O Carlos Tomás ficou cá fora, à nossa espera. Eu não queria fazer nada ao miúdo, eu conheço-o, sei muito bem que ele não estava a mentir. Mas vim-me embora. Tentámos procurar o Ricardo Necho e o Lauro [David]. O Tomás ainda tentou falar com ele, mas o Lauro virou-se contra ele. Porquê o Lauro? Porque foi por causa do crime com o Lauro que o Carlos Cruz foi condenado na parte de Elvas.
E falou com mais algum arguido?
Eu estava a trabalhar na Lourinhã quando o Carlos Tomás me foi buscar para a entrevista. Quando estava já com ele no carro, ligou-lhe o Ricardo Sá Fernandes, que lhe dizia: «Diz lá ao puto que tem que dizer isto assim». Eu estava mesmo ao lado e ouvi, mas o Tomás disse-me tudo depois. 
E o Pedro Lemos, foi o Ricardo que o convenceu a entrar nisto também? Sim, ele também precisava de dinheiro. Disse ao Tomás e ele disse logo para eu o chamar também. Até foi ele que lhe pagou o bilhete para vir do Algarve para Lisboa, e os hotéis. Mas acho que o enganou: eles combinaram assim uma coisa de 1.500 euros, mas o Tomás nunca lhe pagou... O que sente agora? Quando não estou com a droga, sinto-me mal por ter feito aquilo aos miúdos, ao dizer que tinham mentido, ao Dr. Álvaro, o meu psiquiatra, à Dr.ª Catalina. Dá-me muita raiva. Faço sempre mal às pessoas de quem mais gosto. Arrependo-me, mas sempre fui assim desde miúdo. Vendi-me, fui um vendido.
Que imagem é que acha que um processo como este transmite com coisas assim?
Eu sei que as pessoas agora não sabem em que é que devem acreditar. Quem viu as entrevistas diz que eu só fiz porcaria. Com que idade começou a ser abusado? Cinco anos. Primeiro foi pelo Carlos Silvino, o ‘Bibi’, depois foi pelo Carlos Cruz, o Manuel Abrantes, o Pires, o Marçal, o ex-provedor da Casa Pia, o Jorge Ritto... [indica a seguir três ex-dirigentes do PS que não foram acusados pela Justiça] Foi muita gente… A sua mãe ainda percebeu o que se estava a passar? Fui eu que lhe disse. Em 1990, dois dias antes de eu fazer anos, ela foi-me buscar para passar o fim-de-semana com ela. Eu tinha nove anos. E disse-lhe. Ela estava doente, tinha cancro, sida, era uma drogada. Eu disse-lhe que eles me faziam mal, e que me faziam mal ao rabo. Começou a chorar. Entrou dentro do colégio com uma seringa na mão, a dizer que tinha sida e que espetava a agulha a quem me fizesse mal. E fui para casa dela, saí do colégio. Depois apanhou uma overdose, de heroína. Eu estava na cama com ela e ela só me dizia «desculpa-me, desculpa-me», e picou-se. Fiquei com ela até de manhã, ela estava azul. O Ricardo foi tantas vezes abusado que ficou doente. Bem, eu não conseguia segurar as fezes até aos 19 anos, uma coisa assim. Escondia, mas no colégio toda a gente sabia. Sofri humilhação, passei a minha infância toda a ser gozado. Os professores diziam que era um trauma por causa da morte da minha mãe. Quando saí do colégio, foi quando passou tudo. Lembra-se quando começou a ser filmado? Foi com nove anos. Fui filmado com o Nuno Miguel, a fazermos sexo numa casa abandonada em Colares, perto do Castelo da Pena, na praia da Adraga. E na colónia de férias da Casa Pia, em Colares. Com que idade começou a drogar-se? E como? Com nove anos. Em Sintra, na Casa dos Erres. Era uma casa onde havia festas de sexo com gente importante. Estava uma mesa de vidro cheia de cocaína e heroína, e o Carlos Cruz é que me disse: «Toma, snifa isso que é para não doer, ficas mais à vontade». Naquelas festas onde íamos, davam-nos sempre isso para ficarmos fora de nós. Mas quando o processo veio a público, não estava metido em drogas. Não, estava limpo, tinha a minha vidinha toda certinha. Pensava que tinha esquecido o passado. Mas quando isso saiu, voltaram todos os fantasmas e tive que ir buscar a droga, porque é a única coisa que me dá força e que ajuda a esquecer. Tentou esquecer as pessoas que abusaram de si, mas acabou a defendê-las... Não tenho orgulho nenhum nisso. Deixei-me levar e mais uma vez conseguiram destruir-me. Agora, onde vive? Ao pé de Chelas, com uns amigos, numa barraca que temos construído. E o Ilídio? A última vez que o vi, estava a dormir na rua, ao pé do Casal Ventoso, dentro dos carros. Então o dinheiro deixou de chegar? Continuam a pagar? Sim, para ele e para mim. Acho que agora não chega mais. Porque o Carlos Tomás diz que já não fala com o Carlos Cruz, que o Cruz está em baixo. E se acabou para ele também acabou para nós. Mas acho que continua a pagar ao Ilídio. Há volta atrás agora, Ricardo? Todos os que eu falei são culpados. Não sei como dizer em Português: je me regrette [lamento]. Fiz m..., é remorso, tenho que limpar o meu nome, tenho que voltar a dizer a verdade. Já não me sentia bem com tanta mentira. Quando se chega ao ponto de não conseguir dormir durante 15 dias porque a consciência está pesada, e todos os dias a tocar na cocaína, 100/200 euros por dia… Esquece-se 20 ou 30 minutos, mas depois volta com mais força. Com a vida que levo, sei que não vou durar muito e, por isso, antes que me acontecesse alguma coisa, queria limpar a minha cara e pedir desculpa às pessoas que magoei neste processo. Mas tem um filho... Sim, eu bem podia mudar por ele. Mas só tomei consciência do que eles tinham feito comigo, na realidade, quando o meu filho nasceu. Nem uma fralda consigo mudar-lhe, não consigo tê-lo no colo, por medo ou por nem sei o quê. Até isso eles conseguiram estragar, a relação com o meu filho. Quando ele nasceu, a minha infância veio toda à minha cabeça. Tive que me afastar do meu filho, posso fazer-lhe mal. Sei que não lhe vou fazer mal, mas tenho medo de lhe fazer mal. Que dinheiro foi gasto nisto tudo, para comprar vítimas? Foi muito. Fora a droga para mim, passou mais do que 2.000 euros. E era dinheiro quando eu queria, as passagens do Pedro Lemos, ao Ilídio pagavam a gasolina e dinheiro na mão, heroína. O Ferreira Diniz até emprestou um carro para ele ir buscar droga a Espanha. Um carro lá do stand, o tal que fechou e foi à falência...
O que sente agora? Raiva. Sinto que só fiz porcaria, fui usado pelas mesmas pessoas que me usaram quando era pequeno.

Ex-aluno Casa Pia: 'Tinha de livrar os arguidos'
9 de Abril, 2012 por Felícia Cabrita 
Hoje com 30 anos, Pedro Lemos cresceu com Ricardo Oliveira no mesmo lar da Casa Pia. À semelhança de todas as vítimas que durante décadas foram abusadas na instituição, com apenas sete anos já fazia parte do vasto leque de menores nas mãos de Carlos Silvino, que este seleccionava para passar a outros predadores de crianças.
Foi, à semelhança do amigo, abusado na colónia de férias da Casa Pia em Colares e mais tarde numa casa no Campo Grande. Além de alguns funcionários da instituição, denunciou Carlos Cruz e o embaixador Jorge Ritto.
Também manteve a mesma versão durante os 10 anos em que o processo correu nos tribunais. Vive no Algarve, sempre trabalhou ligado à restauração, mas há um ano ficou desempregado. Caiu na tentação do dinheiro fácil e deu entrevistas onde ilibou os arguidos. A mando de Carlos Tomás, com Ricardo e Ilídio perseguiu outras testemunhas (como Francisco Guerra) com o objectivo de as aliciar para também mudarem de versão.
Para dar a entrevista ao Carlos Tomás, o Ricardo diz que lhe foi prometido dinheiro para mentir. Foi assim? Sim, o Carlos Tomás disse-me para livrar os arguidos e para dizer que era tudo mentira o que disse no processo. Disse-me para falar sobretudo do Carlos Cruz, que era tudo mentira, e que tinha sido ameaçado pelo procurador para o acusar. Depois, a entrevista fiz à minha maneira. Eu sabia o que ele queria e construí a minha mentira. Quem é o procurador? O João Aibéo [procurador no julgamento]. O que é que ele lhe disse para dizer em relação a João Aibéo? Que eu tinha sido ameaçado por ele, se não dissesse o que ele queria. Isso é que foi tudo um jogo, foi tudo uma mentira. O que eu disse em tribunal é tudo verdade. Entretanto, ele disse que me pagava esse valor e eu estava apertado… A única coisa que eu falei, quando me perguntaram sobre quem tinha acusado na sala de audiências, disse que acusei todos mas não conhecia ninguém. O Ricardo diz também que Carlos Tomás vos comprava com drogas. É verdade, sim. Ele é que ia comprar a droga. Que tipo de droga? Branca, cocaína. E o que aconteceu com Francisco Guerra? Estivemos no trabalho dele. Levámos o telemóvel do Carlos Tomás para gravar e para ver se ele também dizia que era mentira. Mas ele disse que não e que já tinha feito as suas declarações no processo. Ele também não sabia que nós tínhamos o telefone escondido, não é? Mas o Tomás queria mesmo apanhar o Francisco para ver se o conseguia comprar, já que não tinha conseguido dar-lhe a volta. Está desempregado há quanto tempo? Há um ano. Estou mesmo na porcaria, vou ser sincero, vou ter que começar de baixo. Tem família? O problema é esse. Tenho dois filhos e não sei o que hei-de fazer mais à minha vida. Qual foi o impacto dessa entrevista na sua vida? Foi tão mau, tão mau, que nem dá para explicar. Recebi mensagens de pessoas, amigos de infância, que até me dá vontade de chorar. Olhe, eu já não me conheço desde que fiz isso. Também assinou um documento a pedir para ser ouvido e repor a verdade? Não assinei nada. Ele falou-me nisso e eu disse «para a semana eu passo cá», mas era treta. Nunca mais fui a Lisboa.

Sem comentários:

Enviar um comentário